Box 4-5-9, Ago. Set. / 2006 (pág. 1 a 3)
Título original: “El Padre Ed Dowling — amigo y confidente de Bill”.
Embora um dos axiomas de A.A. é que para ajudar um alcoólico é preciso outro alcoólico, um humilde sacerdote católico que nunca teve problemas com a bebida foi um dos fundadores de A.A. em St. Louis, Missouri, conforme conta Bill W.
Este sacerdote foi o Padre jesuíta Edward P. Dowling, que também chegaria a ser um dos primeiros clérigos que apoiaram A.A. e fez um esforço pessoal para trazer homens e mulheres para a Irmandade a partir do ano 1940.
O padre Ed, como era conhecido, tornou-se amigo de Bill e também no confidente que o cofundador de A.A. precisava nos anos em que se esforçava para estabelecer a Irmandade e lutar contra seus demônios pessoais.
O que tinham em comum o Padre Ed e Bill W. e os outros alcoólicos que tratava de ajudar? A resposta pode ser:
Nos seus anos de juventude foi atleta, mas logo se viu afetado por uma artrite grave que lhe produzia grandes dores. Também tinha suas obsessões. Uma delas era que fumava um cigarro atrás de outro, hábito este, que consegui superar (usando os Doze Passos), e outra era que comia com excesso e de maneira obsessiva. Aparte estes problemas, ele compreendia o sofrimento mental e emocional e às vezes duvidava a respeito da sua capacidade para manter a fé. Mais tarde diria, “tenho a impressão de que se um dia me encontre no céu, será porque fugi do inferno”.
O Padre Ed sentia-se impulsionado a ajudar outras pessoas de uma maneira prática que produzisse soluções positivas. E foi isto que o trouxe a A.A. imediatamente depois de tomar conhecimento de que estava dando resultados para algumas pessoas na área de Chicago e pensou que talvez pudesse ser útil para as pessoas da sua cidade natal, St.Louis.
Os membros de A.A. provavelmente souberam pela primeira vez uma citação sua na sobrecapa do livro Alcoólicos Anônimos, na nona impressão de primeira edição em abril de 1946: “Deus resiste aos orgulhosos e ajuda os humildes. O caminho mais curto para a humildade são as humilhações, das que A.A. tem em abundância”. Isto não apenas representou um firme princípio espiritual, como também serviu como uma aprovação sólida a A.A., embora não oficial, por parte da Igreja Católica. O padre Ed, que acreditava que os Passos de A.A. eram úteis também para enfrentar outros problemas além do álcool, acrescentou este comentário à sua citação: “os não alcoólicos deveriam ler as últimas nove palavras do Decimo Segundo Passo – ‘e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”.
Bill marcou o começo de sua amizade numa tarde tempestuosa de novembro de 1940, quando Lois e ele estavam morando num quarto do antigo Clube da Rua 24 de Manhattan. Lois tinha saído aquela tarde e Bill, que não se encontrava bem e temia estar com uma úlcera, estava sentindo um pouco de auto piedade e de depressão pela maneira como as coisas estavam caminhando nas suas vidas e em A.A. Não tinham um verdadeiro lar, A.A. avançava com dificuldades com menos de 2.000 membros em todo o país, e suas economias estavam num ponto muito baixo. O Livro Grande tinha sido publicado, mas quase todos exemplares estavam encalhados e a gráfica ainda não tinha sido paga. Bill tinha acabado de se deitar quando soou a campainha da porta e o vigilante disse-lhe que um vagabundo queria vê-lo. “Ah meu Deus” disse Bill, “mais um? A estas horas da noite? Bom, diga-lhe que suba”.
Bill descreveu seu primeiro encontro desta maneira: “Ouvi uns passos na escada. Depois o vi entrar no meu quarto, apoiando-se precariamente na sua bengala, levando em suas mãos um chapéu preto amassado, deformado e encharcado pela água da neve. Sentou-se numa cadeira e, quando abriu o sobretudo, vi no seu pescoço o colarinho de sacerdote. Alisou com a mão uma mecha de cabelos grisalhos e olhou para mim com os olhos mais extraordinários que eu jamais tinha visto”. O sacerdote se apresentou: “Sou o Padre Ed Dowling. Um jesuíta, amigo meu e eu ficamos assombrados com a semelhança que há entre os Doze Passos de A.A. e os Exercícios Espirituais de São Inácio”. “Nunca ouvi falar deles”, disse Bill, e isso iniciou uma conversa cordial e animada. ”Falamos de um monte de coisas”, disse Bill, “e aos poucos fui recobrando o ânimo até que finalmente percebi que aquele homem irradiava tal graça que iluminava o quarto com uma sensação de presença. Esta sensação impressionou-me intensamente; foi uma experiência emocionante e misteriosa. Em anos posteriores vi muitas vezes este bom amigo, e seja que o tenha encontrado alegre ou triste, sempre produziu em mim essa mesma sensação de graça e de presença de Deus”.
Assim começou uma amizade íntima que durou até a morte do Padre Ed e 1960. O padre Ed converteu-se no conselheiro espiritual de Bill e Bill foi para o Padre Ed o ideal de um leigo inspirado que tinha criado algo que o mundo não havia tido até então. Nunca foi explicado porque o Padre Ed apareceu sem avisar para visitar Bill W. tão tarde da noite ou se tinha vindo a Nova York com o único propósito de se encontrar com Bill. De qualquer maneira, eles se mantiveram em contato durante as duas décadas seguintes através de correspondência, contínuas chamadas telefônicas e visitas pessoais conforme ia amadurecendo seu relacionamento. Diz-se que Bill recorria ao Padre Ed em cada crise que atravessou na sua vida pessoal e em muitos conflitos e decisões que afetavam a Irmandade de Alcoólicos Anônimos. E embora o Padre Ed fosse alguns anos mais novo que Bill, chegou a ser um pai para ele, cujo próprio pai o tinha abandonado com a idade de nove anos.
St. Louis sempre foi o lar do Padre Ed, onde nasceu em 1898, num bairro de operários de origem alemã, conhecido como Baden, mas os Dowlings não eram alemães como seus vizinhos. Seus avós paternos tinham imigrado da Irlanda em 1847, durante a escassez de batatas. A família prosperou e St. Louis. E seu avô paterno converteu-se nu latifundiário acomodado e membro da Junta de Educação de St. Louis. A mãe de Ed também era irlandesa e tanto ela como seu marido eram muito religiosos. Ed e seus outros quatro irmãos – ele era o mais velho, foram criados sem passar dificuldades. Ed era de estatura mediana, gordinho, com nariz aplastado que lhe valeu o apelido de “Puggy”. Graduou-se numa escola paroquial e depois estudou no St. Mary´s College, de Kansas, onde foi capitão da equipe de beisebol. Também jogava em times semi profissionais nos verões e foi o suficientemente bom para apresentar-se nos testes dos Boston Red Sox e St. Louis Browns, embora nenhum dos dois o tenha contratado. Tinha talento como escritor e foi repórter do St. Louis Globe Democrat em 1917 e 1918, antes de servir como soldado no exército dos EUA na Primeira Guerra Mundial. Estudou durante um ano na renomada Escola de jornalismo Medill da Universidade Northwestern, mas, finalmente, em 1919, ingressou no seminário jesuíta St. Stanislaus, de Florissant, Missouri. Foi ordenado sacerdote em 1931 e pronunciou seus votos como coadjutor espiritual na Companhia de Jesus em 1936.Em 1932 foi indicado para Confraria de Nossa Senhora, onde logo se entrosou com o pessoal que publicava seu boletim, o The Queen’s Work. Dowling foi um escritor prolífico de artigos religiosos e utilizou essa qualidade para divulgar o programa de A.A.
O Padre Ed soube da existência de Alcoólicos Anônimos em 1939 e assistiu a sua primeira reunião de A.A. em março de 1940 em Chicago. Depois ajudou alguns conhecidos seus a ingressar no programa no verão daquele ano. St. Lois já tinha um Grupo de A.A. funcionando. Jack Alexander visitou este Grupo quando estava preparando o artigo sobre A.A. que seria publicado em março de 1941 no Saturday Evening Post, e que ajudou a quadruplicar o número de membros da Irmandade em menos de um ano. Embora alguns clérigos apoiaram A.A. com entusiasmo na década de 1940, o Padre Ed levou seu apoio ainda mais longe, até o que se poderia chamar um apadrinhamento virtual. Uma das histórias que circularam naquele então, a de Carlos G., um advogado de Sioux City, Iowa, quem, no começo de 1944, tinha perdido a esperança de recuperação. Foi para St. Louis para morrer, mas, de alguma maneira encontrou-se com o Padre Dowling que imediatamente o mandou para A.A. Já sóbrio, voltou a Sioux City, formou o primeiro Grupo de A.A. ali, e também levou a mensagem às comunidades vizinhas. Numa carta dirigida ao Padre Dowling no dia 5 de fevereiro de 1945, Carlos assinalou que o dia 24 de fevereiro iria fazer um ano do seu encontro com o Padre Ed e seu começo em A.A. Muitas coisas maravilhosas tinham acontecido desde então, disse Carlos, incluindo haver conhecido outro sacerdote que estava ajudado os AAs de Sioux City.
Também recebeu ânimos do Padre Ed, J. Flanagan, o fundador de Boys Town (Cidade dos meninos). Carlos inclusive conheceu Bill W. em Nova York e estava em contato com homens e mulheres de A.A. de várias partes do mundo. “Foi um ano maravilhoso, o melhor da minha vida”, disse Carlos. O padre Ed dizia às pessoas que A.A. era uma coisa boa e que deveriam “vir e tomá-la”, e logo começou a pensar a respeito de como aplicar os Doze Passos de A.A. a outros problemas. Porque não poderia se reunir casais da mesma maneira para poder falar entre eles? Isto o levou a iniciar as conferencias de Canaã em 1942, um movimento que chegou a se estender por todo pais. Embora o nome Canaã esteja associado a uma história bíblica, significa também que “os casais não estão sozinhos”.
Canaã chegou a ser um movimento de muito sucesso e o Padre Dowling falou nestas conferencias mensais utilizando os Doze Passos, pelo resto da sua vida. Também ofereceu seu apoio e prestigio a outro movimento chamado Recuperação Inc., que tinha sido criado pelo Dr. Abraham Low para pessoas com problemas mentais. Assim como fez com A.A., foi a Chicago para conhecer o programa de Recuperação Inc. e fundou um Grupo dessa sociedade em St. Louis numa das salas de The Queen’s Work.
O padre Ed nunca teve de discutir sua própria humanidade com outras pessoas, e sem dúvida alguma foi isto que lhe valeu o carinho de muitos e o converteu numa pessoa especial em A.A. e na vida de Bill. E se pudesse ser destacado um momento de sua amizade, foi quando A.A. celebrou sua Segunda convenção Internacional em St.Louis em 1955, um evento que atraiu milhares de pessoas a essa cidade e também marcou a ocasião em que Bill deixou seu posto em A.A. e entregou suas funções de serviço à Conferência de Serviços Gerais de A.A.
Há quem diga que Bill fez campanha para que a Convenção fosse realizada em St.Louis porque era a cidade do Padre Dowling e naquele momento estava doente e talvez não lhe fosse possível viajar a outo lugar. O Padre Ed falou nessa Convenção e sua fala está registrada no livro “A.A. Atinge a Maioridade”–Junaab, código 101. Bill fez sua apresentação dizendo: “De todas as pessoas que eu conheço, nosso amigo Padre Ed é a única a quem nunca ouvi uma palavra de ressentimento ou uma simples crítica. Para mim foi continuamente um amigo, conselheiro, um grande exemplo e fonte de inspiração até o ponto que eu próprio não alcanço descrever, “O Padre Ed foi feito da madeira dos santos”.
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